Por G1 PA — Belém
Matinta Pereira, Mãe do Mato e Curupira ganharam uma nova versão em vídeos de animação. A produção é de Maria do Carmo Freitas, concluinte do curso de Artes Visuais do Plano Nacional de Formação de Professores (Parfor) da Universidade Federal do Pará (UFPA), que recontou as histórias narradas pelos anciões da sua comunidade quilombola Gibrié de São Lourenço, na zona rural de Barcarena.
“Estas narrativas, estas contações de histórias que meu povo tem, fazem parte da minha vida e do meu repertório histórico e cultural, porque era uma cultura nossa sentar ao redor da fogueira, enquanto os mais velhos contavam histórias à noite”, conta Maria do Carmo, que é professora do município.
Osmarina Santos, de 80 anos, participou do projeto. Para ela, as animações lhe permitiram relembrar a juventude. “Eu tinha uns 10 anos quando tudo isso era contado, era visto: Matinta Pereira, Mãe do Mato, Curupira. Fico pensando: ´Meu Deus! Será que isso é verdade?’ Hoje ninguém acredita mais em nada, é uma descrença que não tem tamanho. Mas as minhas histórias são verídicas, isso aconteceu”, garante dona Osmarina.
Produção
Após mapear as histórias entre os habitantes mais velhos da comunidade, Maria do Carmo optou por reproduzir os contos de visagem por meio de narrativas gráficas. Ela conta que a ideia de transformar os contos em vídeos de animação veio após entrar em contato com a técnica de stop-motion durante as aulas.
“Sempre procurei aliar o que aprendia dentro da universidade com a minha prática pedagógica dentro de sala de aula. Fui ressignificando minha prática à medida que eu ia absorvendo os conhecimentos. Decidi contar essas histórias e convidar minha turma para fazer esses vídeos”, conta Maria do Carmo, que apresentou esse tema em seu Trabalho de Conclusão de Curso.
Para produzir as animações, ela formou uma equipe de cinco alunos, que participaram com ela da coleta das histórias, da elaboração dos roteiros, dos storyboards e dos cenários das animações, além de captarem todas as fotografias que compõem os vídeos animados.
Pedro Lucas, de 11 anos, foi um dos alunos que mais se empenharam na produção dos vídeos e chegou a instalar aplicativos de stop-motion no telefone celular da mãe para produzir vídeos caseiros. “É importante que muita gente fique sabendo das histórias. Se os idosos que contavam essas histórias não contarem mais, elas vão morrer”, diz o aluno.
Armando Freitas, de 72 anos, foi um dos contadores de história do projeto e acredita que falar sobre os encantamentos e as entidades da floresta é uma forma de repassar a importância de respeitar a natureza. “É uma coisa para os adolescentes entenderem qual a diferença do mundo de hoje para o mundo de antigamente. As crianças aprenderem essas histórias é uma forma de respeitar a natureza, porque a gente morre e a história fica”, diz Armando.
Fonte: G1 Pará.