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Ya Juarez: “Queremos a nossa vida e a nossa família, porque tenho as mesmas vontades que todes”

Dia 29 de janeiro é comemorado o Dia da Visibilidade Trans e Travesti, que possui como objetivo trazer reivindicações da comunidade e abordar seus direitos constitucionais que são legalmente garantidos. Porém, ao longo do ano, a causa não deve ser esquecida e a luta não pode diminuir.

Por isso, o Coluna On traz novamente o tema através dos olhos de um representante da própria comunidade trans, pois o diálogo é essencial para que seus direitos sejam ouvidos e respeitados.

Ya Juarez possui 30 anos, é uma pessoa trans e não-binárie. Além disso, é graduade em Design Gráfico, tendo especialização em manipulação e pós-produção de imagem digital. Mas, ainda assim, quem é Ya?

Em uma entrevista para o Coluna On, trazemos o lado humanizado da questão, apresentando vivências, a importância de sonhar e, principalmente, de ocupar os lugares que são seus por direito.

Ya Juarez | Foto: Arquivo pessoal

Coluna On: Tanto já foi se falado sobre, mas ainda assim… Quem é Ya?

Ya Juarez: Quem é u Ya? Bom… U Ya começou a nascer, a crescer e se multiplicar em mim em 2020. Naquela época eu comecei a entender sobre pessoas não-binárias, mas eu não aceitei que aquilo era real até entrar em conflito comigo mesmo. De certo modo, eu estava negando aquilo que sempre fui porque desde pequeno, eu me sentia uma criança diferente – não gostava de me vestir como menina ou até mesmo de jogar brincadeiras de menina. Também não gostava de me impor coisas, como usar batom, maquiagem, vestido, ou mesmo sentar como uma garota. Eu simplesmente odiava tudo isso.

Desde muito pequeno eu sempre fui ensinado que aquilo era uma frescura, e por isso, no começo, foi muito difícil entender quem era u Ya.

Coluna On – Por suas vivências, como este nome e sua identidade lhe ajudaram a lutar por si mesmo?

Ya Juarez: Tenho 30 anos e estou nessa transição. É um processo que traz muitas vivências e muitas histórias, pois eu demorei muito para aceitar que eu era u Ya, e também para me aceitar como trans. Eu tive muitas inseguranças em ser uma pessoa não-binária no começo, isso principalmente entre 2020 e 2021. 

Mas o que me ajuda hoje a lutar pela minha identidade é saber que eu estou neste processo a mais de um ano com terapia, tentando entender o meu espaço, porque a partir do momento que você se assume trans, as coisas mudam, não é? As vivências mudam, as pessoas mudam, o ciclo de emprego também muda, pois tudo se torna mais limitado e fechado.

Coluna On – Existe alguma questão de tempo a ser seguido em relação ao pronome e nome que chamam as pessoas trans?

Ya Juarez: Eu sinto que ainda é um processo muito longo, ainda temos problemas de outras pessoas não entenderem e respeitarem nossos pronomes, de falar o “nome morto”, de serem invasivas, de ficarem questionando o porquê, sendo que isso não existe. Não existe um porquê, somos pessoas trans.

Sinto também que uma das batalhas mais constantes é com o uso da linguagem neutra. Com certeza ainda vai levar um tempo para as pessoas entenderem porque existem muitos debates sobre isso, e consequentemente vai demorar para todes começarem a entender, ou mesmo escrever assim para respeitar as pessoas não-binárias.

Coluna On – Que conselho você daria para pessoas trans que ainda estão com dificuldades sociais de aceitação coletiva?

Ya Juarez: Hoje eu consigo me ver como uma pessoa, consigo me respeitar e me aceitar. Às vezes, precisamos apenas ter mais gentileza com o outro, sabe? Entender que as pessoas são diferentes e que independentemente de qualquer coisa, estamos ali apenas para ocupar o espaço que é nosso. Queremos a nossa vida e a nossa família, porque tenho as mesmas vontades que todes – de um emprego bom, de ter sucesso. Ou seja, tudo que as pessoas possuem direito.

Então, o meu conselho é: primeiro entender a si mesmo, entender o que você quer e também entender que realmente é um processo difícil, mas não impossível. E para isso, você precisa ter paciência consigo mesmo, precisa ter compaixão e também esperar. Ansiamos tanto por aquilo que não aproveitamos o processo, que muitas vezes está ali para nos ensinar.

Eu digo que estou em constante mudança, que estou sempre aprendendo e me amando a cada dia. Então, voltando para a primeira pergunta, essa pessoa sou eu. Eu sou u Ya, sou designer, amo fazer minhas criações e também amo fazer arte que envolvam pessoas trans porque elas existem, elas sentem, elas amam, e estão fazendo o seu melhor. E por isso, desejo que sejam felizes em sua melhor versão.

Coluna On

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